Dirigindo um Skyline GTR R32 no Japão

Posso dizer que sou um cara de sorte em relação aos carros que tive oportunidade de dirigir, seja no Brasil ou no Japão, de carros preparados, restaurados, exóticos e até mesmo de corrida. Nessa enorme lista existem experiências únicas e dirigir um Nissan Skyline GTR R32 foi uma delas…
 
 Meu amigo  Ozai, que tem sido uma figura importante desde que eu cheguei ao Japão, me ligou em uma terça-feira fria de janeiro e disse:
– Panda, preciso de um favor
– Demoro, fala aí!
– Tem como você ir buscar um Skyline R32 em…
– Tem sim!
Respondi antes mesmo dele terminar.
Na real ele já sabia a resposta, quem negaria uma missão dessas? Era só acertar os detalhes e combinar com o dono da oficina aonde o carro estava em Suzuka, que ficava uma hora e meia da minha casa…
Chamei meu irmão, pegamos estrada bem antes do horário combinado e em minha mente já planejava a melhor rota para aproveitar aquela oportunidade…
Ansiedade da porra, depois de 2 anos de Japão iria finalmente dirigir um GTR.
Todos aqueles dias de Gran Turismo finalmente iriam se realizar como em tantas outras oportunidades…
Chegando na oficina , o carro estava exposto sobre uma luz meio fraca, mas em um espaço grande. Deu vontade de tirar várias fotos ali mesmo, mas não queria que o dono da oficina pensasse que eu estava empolgado e aquela seria minha primeira vez e ele também sabia que eu estava ali fazendo um “favor”…
Não demorei muito, enquanto circulava o carro olhando os detalhes externos, conferi junto ao dono da oficina a lista de serviços e já tratei de entrar no carro… Extremamente baixo, cambagem negativa, com rodas taludas e pneus stretch. Confesso que imaginária andar em um GTR mais original possível na minha primeira vez. Foi quando o dono da oficina disse:
– É GTR, mas ele está só com a tração traseira!
 Era um R32 de drift, confesso que aquilo foi um mix de surpresa com desapontamento, a maior característica do carro não estava ali: O sistema de tração AWD brutal do modelo…
 Me ajustei no Recaro, coloquei o cinto Takata e virei a chave. Contato, luzes no painel, barulho da bomba e dei partida! Todo o receio sumiu quando o som peculiar do seis cilindros tomou conta daquele salão. É natural que depois de alguns meses você já reconheça o ronco, é diferente do 2JZ, mas a música também é boa!
Sai dali com tanque quase vazio então a primeira parada foi no posto e aproveitamos a luz pra fazer a clássica foto na bomba de combustível…
 O carro ainda não estava da temperatura ideal, e o que eu aprendi até então era que o RB26 que equipava o GTR necessita de alguma atenção e uma delas era com a temperatura do motor, ainda mais no inverno…
 Suzuka é uma cidade grande com ar de interior, mas possui mais dois circuitos além do Suzukão (como chamamos o circuito internacional), o Motorland e o Twin atraem muitos pilotos amadores de drift e grip, sendo assim é fácil andar pela cidade e encontrar carros bem legais… E até uns clássicos como AE86…
Voltando ao GTR32, depois de alguns minutos eu comecei a abusar do acelerador, não havia medo, mas respeito e cuidado…
Pra quem já havia dirigido outros carros, até que esse Skyline era bem forte apesar de poucas modificações. O conjunto ainda possuía as duas turbinas originais, bicos de alta vazão e sistema de pressurização em alumínio. Tudo controlado por uma injeção HKS V-pro, uma das mais usadas nos GTR’s…
 O câmbio tem trocas justas, a embreagem possuía muito mais carga, mas não consegui a exata informação de qual era…
Esticando todas as marchas o carro insistia em sair de traseira, mas ao mesmo tempo não era algo difícil de controlar….
Apesar de todo o visual mal, o carro ainda era bem justo e na mão, olhando por fora parecia ser algo realmente mais agressivo, mas acredito que pela tração desligada o carro estava na medida…
Por dentro, uma capa de carbono cobria o painel e a gaiola tornava o espaço ainda um pouco menor pra uma pessoa como eu de 1,80m e dimensões laterais bem grandes…
Fiz um pequeno vídeo e editei mais ou menos pra colocar no meu canal pessoal no YouTube, talvez dê pra passar melhor oque eu queria dizer aqui…
 O estilo shakotan (rebaixado) do carro remete ao estilo old School japonês, porém mais atualizado, com rodas maiores,  preservando detalhes originais e com cores chamativas. Também é conhecido como “Dress-up drift”, um carro com um apelo mais visual, mas que também faz drift, porém no intuito mais de diversão do que pontuar em algum campeonato oficial …
O mais legal disso tudo é que o dono usa o carro quase que diariamente, e ainda participa de alguns soukokais em pista. É raro ver um desses na rua, só os olhares que eu recebia dentro dele já provam isso, o tesouro do Japão foi desaparecendo, assim como eu disse no artigo anterior , com uma larga demanda de exportação desses carros, tem se tornado inviável e difícil de ver alguns pelas ruas…
Mas qualquer outra oportunidade na eu não vou deixar passar e tentarei trazer aqui pra vocês…
Abraços!
Felipe Massayuki

Consumido Pela Cultura JDM

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Já faz muito tempo desde a última vez que redigi um texto para preencher as páginas desse site e adicionar um pouco da minha visão a vocês…
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Sendo mais exato, a última vez que eu escrevi algo, fotografei e entreguei nas mãos do Thiago Marinelli para que ele pudesse editar no formato ideal do site, foi em Agosto de 2015. Minha primeira vez no D1 Grand Prix…
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Me lembro que fazia quase 10 meses que eu estava no Japão e ainda não possuía um notebook. E adivinhe? Depois de dois anos e quase sete meses , nada mudou… em relação ao Notebook, claro, mas muitas outras coisas mudaram…
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Além de dar meus pitacos por aqui, muita gente (muita mesmo) me seguia em um projeto paralelo no Facebook batizado de Dekasegi Racing. Você provavelmente vai procurar  por essa página, mas não vai achar…
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Sim, eu excluí página, e isso fez parte de todo um processo de ser consumido não só pela cultura automotiva, mas pelo estilo de vida japonês: jornadas de 12 horas ou mais de trabalho, afazeres domésticos e um carro de drift que ainda hoje exige muita atenção, dinheiro e tempo, coisa que eu não tenho feito ultimamente…
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Se você chegou agora, ou só lembra de mim na página do Hoon Club ou do  Dekasegi Racing , eu devo te dizer que  possuo um nissan Silvia S13 no qual eu tento fazer drift…
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 Foi o meu primeiro carro no Japão, teve seus dias de rua, já foi um daily e hoje precisa de uma atenção para ser revisado e voltar ao circuito. Após uma crise financeira que o levou aos anúncios de venda, quem pagou o pato foi um outro “erro financeiro” sobre rodas…
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Um Honda Civic EG5 era pra ser meu carro de grip. Sim, eu achava que devia ter um carro de cada estilo para matar minha sede de cair de cabeça no automobilismo amador do Japão…
Mas a vida não é um Gran Turismo meu amigo. Por mais que eu mesmo fizesse toda a parte mecânica dos carros , as peças e o próprio custo de manutenção, somados aos impostos acabariam com o meu pequeno salário…
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Você deve estar se perguntando: como o cara não consegue manter um Silvia e um Civic no Japão ? Bom, como eu já disse, a vida não é um Gran Turismo…
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 Com a popularização da cultura JDM e do drift pelo mundo, abriram as fronteiras em outros países e milhares de carros que compõe a cena automotiva japonesa são exportados todos os dias aos montes, sem falar das peças…
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Tudo isso elevou drasticamente o custo pra se ter , montar e correr com um carro desses.  Ainda acessível, mas não como na década passada…
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Por exemplo: até o ano de 2008 era fácil um Silvia S13 com o básico para se fazer drift a venda pelo valor de 300.000¥ . Hoje os valores ultrapassam a casa dos 500.000¥ dependendo do que foi montado no carro. O motor e o câmbio originais saiam por aproximadamente 30 a 50.000¥ hoje só um motor não é vendido por menos de 100.000¥…
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Toda essa valorização aconteceu com muitos outros carros. Mas nada que venha impedir de um assalariado como eu, de ter um esportivo nipônico, basta economizar em outras partes e trata-se também de meter a mão na graxa…
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A vontade de ter um carro, correr e viver tudo que o Japão pode te oferecer a cerca da cultura dos carros , se trata também de abrir mão de tantas outras coisas , inclusive do tempo livre…
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Apesar de ter sido consumido aos poucos e aos poucos ter deixado de lado as mídias sociais e o próprio site , descobri que tudo é uma questão de planejamento e organização. Outros membros e colaboradores tem seus motivos, mas esses são os meus…
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O Final Spec trouxe tantas boas oportunidades, experiências e amizades pra quem participou de alguma forma aqui. Acho que ainda temos muito que colher, aprender e mostrar. Talvez essa seja uma boa hora de voltar, com um pouco mais de experiência e uma visão mais ampla, espero que essa seja uma boa reconciliação.
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Te vejo por aqui!
Abraços!
Felipe Massayuki

JDM Wars em Interlagos, Parte 2

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Depois de uma rápida introdução ao tema do 1º JDM Wars e um passeio pelo estacionamento do evento, chegou a hora de cairmos para dentro os boxes e conferir um pouco da ação que rolou na pista. Na foto acima, uma cena que muitos entusiastas devem ter sonhado em ver por anos a fio: Um Nissan Skyline R34 e um GTR R35 extensamente modificado descendo a saida dos boxes no S do Senna. Não dá pra imaginar uma cena mais digna de um evento voltado aos carros japoneses do que essa, não é mesmo?

Continue lendo e confira as outras preciosidades nipônicas que marcaram presença no evento que trouxe um pouco do Japão pra dentro de Interlagos! Continuar lendo

JDM Wars em Interlagos, Parte 1

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O ano de 2016 começou forte para os frequentadores assíduos de Interlagos, o templo paulistano da velocidade. Enquanto no domingo dia 24/01 acontecia a primeira etapa do Track Day Paulista organizado pela Crazy for Auto, a segunda feira 25/01 era aguardada pelos fãs dos carros japoneses que presenciariam a primeira edição do JDM Wars, evento voltado exclusivamente aos carros nipônicos que aconteceu no feriado onde se comemorou o aniversário de 462 anos da cidade de São Paulo e o público aproveitou o dia livre e ensolarado para prestigiar essa mistura de encontro com track day e time attack que promete novas edições no futuro. Confira conosco como foi o evento através do olhar Final Spec!

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Super Drift Brasil, Final Round!

Mauricio_Oliveira-2015December264-387Nós do Final Spec acompanhamos alguns acontecimentos marcantes na cena do Drift brasileiro desde as primeiras apresentações da modalidade que aconteceram em edições do Xtreme Motorsport no final da década passada e começo dessa,  e apesar de registrarmos um evento ou outro no passado como em uma edição dos tradicionais Soukoukai realizados no kartódromo de Itu, ainda não tinhamos acompanhado uma competição da modalidade  propriamente dita em terras brasileiras, já que já marcamos presença no Japão nos bastidores do D1GP e do D1 Street Legal.
Assim sendo, partimos para a última etapa do Campeonato Super Drift Brasil, que foi realizada em 13 de Dezembro na cidade de Praia Grande, litoral de SP, e que contou com a participação dos ícones japoneses da modalidade Daigo Saito e Masashi Yokoi como juizes.

Confira conosco como foi o domingo ensolarado no kartódromo da Praia Grande que contou com nomes de peso da velha guarda do drift brasileiro e também deixou claro que a nova geração de pilotos da modalidade veio para elevar o nível do esporte!

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HRMB 2K15 – Honda, Race, Meet and Barbecue!

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Enviamos o fotógrafo Final Spec que atende por Maurício Oliveira para cobrir o HRMB 2K15 e pedimos ao amigo Márcio Fujii – Canal FUNDRIVE para contar como foi o evento direto do cockpit de quem protagonizou os pegas dentro da pista de arrancada da Arena Show Car Sorocaba, nova casa do evento que une os entusiastas da Honda para correr e curtir um bom churrasco em clima de confraternização com os amigos, sejam eles donos de Honda ou não. Uma ótima oportunidade para botar em prática a velha máxima de que números e dados de fichas técnicas não ganham corridas, nas palavras de Fujii:

Números! Ahh, Super Trunfo! Eu, com meus 26 anos joguei muito na infância e creio que isso me ajudou muito a conhecer os carros como eu conheço hoje. Com 8 anos já sabia que as Mercedes Brabus eram 7.3 V12 e que o Calibra tinha um coeficiente aerodinâmico invejável na época em que foi lançado. Hoje tudo mudou e os novos amantes de carros tem a internet pra basear suas opiniões e julgar em números porque carro X é melhor que carro Y.

Números! O que faz sentido na nossa cabeça pra justificar o que é melhor.

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D1 Street Legal em Meihan: Como foi Encarar o Drift de Perto Pela Primeira Vez, Através do Olhar e das Palavras de Nick Nagano

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Olá a todos os camaradas leitores do Final Spec! Primeiramente, devo deixar minha apresentação e o porquê de eu estar escrevendo aqui, afinal, muitos de vocês não me conhecem e não sabem como de que toca eu saí… Pois bem, meu nome é Nickson Shigeo Nagano (Nick Nagano), nascido em Hamamatsu, provincia de Shizuoka, há 20 anos atrás. Apesar do lugar de nascença, sou considerado brasileiro – por ser filho deles, enquanto que a descendência nipônica vem por parte de pai. “Então você é um macaco velho do nosso querido e culturalmente rico Japão, certo?”, errado. Eu nasci aqui, mas por meus pais serem “dekasseguis”, não estavam aqui com intenção de morar para sempre e acabaram voltando para o Brasil. Com apenas 8 anos de vida, provavelmente não me deixariam aqui sozinho, né?

Mas passou-se mais de 10 anos desde então e decidi o que queria pra mim e pra minha vida. Faz muito que falava para os colegas, conhecidos mais próximos e família: “Não quero continuar sonhando aqui, mesmo se eu fosse rico ou com milhões de graduações em N universidades e ganhando muito dinheiro. Meu sonho não está aqui e em breve, muito em breve, estarei voltando pra lá. Não me sinto feliz no Brasil e vou fazer acontecer no Japão.” Dito e feito. Ao perder uns 30 segundos do seu tempo lendo até aqui, você provavelmente deve estar pensando o que me fez voltar pra terra do Sol Nascente. Por este texto ter sido publicado aqui, no Final Spec, já dá pra ter uma ideia do que seja, né?

(C) Nick Nagano

(C) Nick Nagano

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Recomeçando… a 8.000 RPM.

Mauricio_Oliveira-2015August247-183As vezes nós chegamos naquele estágio da vida no qual nos encontramos exatamente no lugar em que queriamos estar, trazendo para a realidade aqueles sonhos que antes só existiam em nossas cabeças após muitas batalhas e suor derramado. Porém, não é incomum que a mesma vida nos traga reviravoltas e de uma hora pra outra somos apresentados a uma realidade dificil de lidar,e duas opções são apresentadas: Desistir de tudo e viver recordando lembranças de uma época dourada ou erguer os olhos ao horizonte e seguir em frente em busca de algo novo. Essa é a história de Márcio Fujii e seu Honda Civic VTi, um amigo fiel que o conquistou em meio a um periodo turbulento, e ela têm início em meados de 2014… Continuar lendo

Uma Forester XT de Família

Mauricio_Oliveira-2015August245-206A Subaru foi uma das marcas pioneiras na introdução do conceito “crossover”, misturando as caracteristicas de dois ou mais gêneros automotivos em um só modelo. Enquanto a maioria das montadoras corria atrás da tendência de crossovers em meados dos anos 2000, a Forester foi lançada em 1997 e aliava a pegada fora de estrada dos SUV com a dinâmica de um carro de passeio refinado, tudo reunido sob as formas de uma perua um pouco mais encorpada que a maioria, o que evocava ao modelo uma aura de veículo familiar. Porém, quando nos referimos à essa Forester XT 2008 de carroceria negra que ilustra esse post, a expressão carro de família ganha outro significado…

(Text in english avaiable, keep reading!)
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